A origem dos cordéis são as cantigas dos trovadores medievais, que
comentavam as notícias da época usando versos, que eles próprios cantavam,
frequentemente de forma cômica. "Por volta do século XVI, ela era praticada na
península Ibérica por meio dos trovadores, que recitavam louvações e
galanteios para agradar aos poderosos", diz Gonçalo Ferreira da Silva,
presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Com o tempo, tais
artistas começaram a registrar suas falas em folhas soltas, conhecidas em
Portugal como "volantes", e prendê-las em torno do corpo em barbantes para
que as recitassem e, ao mesmo tempo, garantissem as mãos livres para os
movimentos.
No século XVIII esse tipo de literatura já era comum, e os portugueses
a chamavam de literatura de cego, pois em 1789, Dom João V criou uma lei em
que era permitido à Irmandade dos homens cegos de Lisboa negociar esse tipo
de publicação. No início, a literatura de cordel também tinha peças de teatro,
como as que Gil Vicente escrevia. Esta literatura foi introduzida no Brasil pelos
portugueses desde o início da colonização.
Foi no século XVIII que a literatura de cordel chegou em nosso país.
Durante o início da colonização os portugueses a trouxeram e aos poucos ela
começou a se tornar popular. Há quem afirme que os folhetos foram
introduzidos no Brasil pelo cantador Silvino Pirauá e em seguida pela dupla
Leandro Gomes de Barros e Francisco das Chagas Batista. Inicialmente, quase
todos os autores da literatura de cordel brasileira eram cantadores. Estes
improvisavam os versos na hora que estavam cantando, viajavam pelas
fazendas, vilarejos e pequenas cidades do sertão.
Diferentemente de outras formas de literatura, o cordel é derivado da
tradição oral. Isto é, surge da fala comum das pessoas, e também das histórias
como contadas por elas, e não como fixadas no papel. "Onde quer que existam
populações que não sabem ler nem escrever, existirá poesia oral, conto oral,
narrativa oral, porque as pessoas não acham que o analfabetismo pode impedilas
de praticar a poesia e a narrativa. A literatura nasceu oral e foi assim
durante milênios. Quando a Ilíada e a Odisseia foram transpostas pela primeira
vez para o papel, já tinham séculos de idade", afirma o escritor Braulio Tavares.
O verbete "cordel" apareceu apenas em 1881, registrado no dicionário
português Caldas Aulete. Era sinônimo de publicação de baixo valor e
prestígio, como as que na época eram vendidas penduradas em cordões na
porta das livrarias - esses "varais" de literatura logo caíram em desuso, mas o
nome prevaleceu. A tradição chegou ao Nordeste do Brasil com os
colonizadores portugueses e, ao longo dos séculos, adquiriu características
próprias. A forma definitiva, com os livretos, tem pouco mais de 100 anos. Tudo
graças a algumas prensas velhas de jornal.
Um dos primeiros cordéis de sucesso foi A Guerra de Canudos, em que o
conflito de 1896 e 1897, opondo Antônio Conselheiro ao Exército brasileiro, foi
retratado em versos por João Melquíades Ferreira da Silva, que fora soldado
naquelas batalhas e se tornaria um grande nome da primeira geração de
cordelistas brasileiros.
Conforme o cordel se popularizou, as evoluções gráficas vieram pelas
mãos dos artistas das gerações seguintes: as capas com textos meramente
decorativos aos poucos foram substituídas por imagens de cartão-postal e de
estrelas de Hollywood, mais atrativas.
Até que, nos anos 1950, o folheto alcançasse a sua cara definitiva nos
desenhos "rústicos" da xilogravura.
Segundo o pesquisador americano Mark J. Curran, professor da
Universidade do Estado do Arizona e autor de livros como Retrato do Brasil em
Cordel, os folhetos cumpriram o papel de jornal e novela do povo sertanejo,
exerceram a função de ao mesmo tempo informar e entreter, em muitos
momentos integrando à vida nacional populações que ainda não haviam sido
atendidas pelos serviços tradicionais de comunicação.